Quinta, 25 de Novembro de 2021 - 20:30
Palácio Marquês de Pombal
Oeiras
Música de Câmara da Familia Avondano
Em finais do século dezoito, a música de câmara conheceu um particular desenvolvimento nos círculos culturais emergentes da burguesia. A ebulição social de então decorrente principalmente dos ideários da Revolução Francesa, potenciou uma mesclagem social, e favoreceu uma assimilação mais evidente de traços culturais das culturas populares, com os compositores a integrarem mais comummente elementos característicos das mesmas, combinando estilos e tópicos muito diversos. Multiplicaram-se os concertos públicos e as edições de partituras, e cresceu significativamente o número de pessoas com instrumentos musicais, representando uma intensificação da actividade musical não-profissional.
Em Portugal, no mesmo período, pós-terramoto 1755, a transformação social acontecia em ritmo diverso, com o peso da Igreja a marcar uma grande parte dos acontecimentos culturais, à excepção do Teatro ou da Ópera. A imprensa musical, praticamente inexistente, ganhou algum fôlego com os jornais das modinhas, mas as grandes obras são impressas no estrangeiro, em França e Inglaterra. Paralelamente, os concertos públicos pagos tinham iniciado no seio da família Avondano, aos quais acedia sobretudo a burguesia estrangeira. Foi em casa de Pedro António Avondano que se constituiu a ‘Assembleia das Nações Estrangeiras’, uma espécie de clube privado onde se apresentavam os mais célebres músicos da época. Após Pietro Giorgio Avondano ter vindo de Génova para assumir o posto de concertino da orquestra da Corte de D. João V, os seus descendentes, grande parte deles, fizeram carreira com músicos, Pedro António Avondano, violinista, e João Baptista André Avondano, seu irmão, violoncelista, foram os que mais se destacaram.
É da música de câmara destes compositores que o programa deste concerto se ocupa. Três triosonatas cuja autoria não está completamente estabelecida, se são de Pedro António Avondano ou de Pietro Giorgio Avondano, seu pai, e dois duetos de João Baptista André. As triosonatas inscrevem-se na tradição tardo-Barroca de sonatas de câmara e sonatas da igreja. Compostas na década de 1720, por tal, muito provavelmente mais da autoria de Pietro Giorgio que de Pedro António, revelam a utilização de um ‘estilo misto’ que integra elementos de natureza muito diversa, desde o concerto orquestral, à dança, ao estilo brilhante e ao estrito, recorrendo também aos tópicos militares.
Os duetos de João Baptista André fazem parte de uma uma obra publicada em Lyon (ca. 1770) intitulada Quattro/Sonate/ E Due Duetti/ Per Due Violoncelli/ Dedicati/ A Sua Maesta/ Il Re Di Portogallo/ Dal Sig.R Giov. Batista Andrea/ Avondano/ Virtuoso Di Camera Di Sua Maesta. João Baptista, após ter estudado com Jean-Pierre Duport, em Paris, assume o lugar de violoncelo principal na orquestra da Corte, na altura considerada como uma das melhores orquestras da Europa. As suas sonatas, bem como o primeiro dueto a par dos quartetos de Pedro António Avondano e de uma exuberante Sonata em Ré maior de Gomes da Silva, constituem alguns dos mais exemplos emblemáticos da utilização da exploração virtuosística da técnica dos instrumentos.
Ensemble Meridional
Lorenzo Colitto, Mariña García-Bouzo, violinos
Fernando Santiago, violoncelo
João Janeiro, cravo