Concertos Brandeburgueses

Data

26 JUN 2021 - 18:00

Local

Igreja da Graça - Sta. Casa da Misericórdia

JOHANN SEBASTIAN BACH (1685-1750)
SEIS CONCERTOS BRANDENBURGO BWV 1046-1051 — 300 ANOS: 1721-2021
CONCERTO IBÉRICO — Orquestra Barroca
cravo e direcção, João Janeiro


‘Six Concerts avec Plusieurs Instruments’

Concerto No. 3 em Sol maior, BWV 1048
3 violinos, 3 violas, 3 violoncelos, baixo contínuo
[sem indicação de andamento] — adagio — allegro

Concerto No. 6 em Si bemol maior, BWV 1051
2 violas, 2 violas da gamba, violoncelo, baixo contínuo
[sem indicação de andamento] — adagio — allegro

Concerto No. 4 em Sol maior, BWV 1049
2 flautas de bisel, violino, cordas e baixo contínuo
allegro — andante — presto

Concerto No. 2 em Fá maior, BWV 1047
trompete, flauta de bisel, oboé, violino, cordas e baixo contínuo
allegro — andante — presto

Concerto No. 5 em Ré maior, BWV 1050
flauta travessa, violino, cravo, cordas e baixo contínuo
allegro — affettuoso — allegro

Concerto No. 1 em Fá maior, BWV 1046
2 trompas, 3 oboés, fagote, violino piccolo, cordas e baixo contínuo
[sem indicação de andamento] — adagio — allegro — menuetto
(menuetto - trio I - menuetto da capo - polacca - menuetto da capo - trio II - menuetto da capo)

 

Lorenzo Colitto, violino concertino
Adrián Pineda, Mariña Bouzo, Sofia Grilo, Dhiego Lima, violinos
Ricardo Mateus, Daniel Lorenzo, violas
Rémi Kesteman Leonor Sá, violoncelos
Alejandro Marías, violoncelo / viola gamba
Ana Sousa, viola da gamba
Jean-Marc Faucher, violone
Filipa Oliveira, Ana Figueiras, flautas de bisel
António Campillho, flauta travessa
Francesco Intrieri, António Vidal, José Francisco, oboés
Gabriele Cassone, trompete natural
Ermes Pecchinini, Alessandro Orlando, trompas naturais
Hugues Kesteman, fagote 
João Janeiro, cravo e direcção

 

Em 2021, assinala-se a passagem dos 200 anos sobre a data em que Bach ofereceu os Concertos Brandeburgueses ao Príncipe Christian Ludwig de Köthen. Trata-se de uma das obras orquestrais mais fascinantes da História da Música Europeia, sendo constituída por seis concertos destinados a formações instrumentais diferentes. Sabemos que o primeiro andamento do concerto n.º 1 foi utilizado como Sinfonia de uma cantata que Bach escreveu no período de Weimar (BWV 52) e que existem versões reduzidas de alguns concertos (BWV 1046a,1050a), porém, reunidos nesta colecção em 1721, reclamam a participação do dispositivo orquestral de dezassete instrumentistas que Bach tinha à disposição em Köthen. O concerto n.º 4 foi posteriormente transcrito por Bach, substituindo o violino solista pelo cravo (BWV1057).

Os concertos de Brandenburgo são exemplo do interesse do compositor pelo género instrumental do Concerto que os compositores italianos desenvolveram a partir de finais do século dezassete, em particular Arcangello Corelli e Antonio Vivaldi. A admiração de Bach pela obra de Vivaldi levou-o, não só a transcrever alguns dos seus concertos para órgão, mas também a desenvolver este género musical seguindo a mesma estrutura musical com refrão (ritornelo), e explorando os contrastes entre tuttii e ripieno. Bach chegou mesmo a escrever uma obra para cravo transpondo as características do concerto orquestral alla italiana, o Concerto Italiano BWV 971.

As combinações instrumentais que Bach utiliza nos Brandeburgueses são diversificadas e pouco comuns. Exceptuando o concerto n.º 6, deveras singular sob o ponto de vista da instrumentação — 2 violas, 2 violas da gamba, violoncelo e baixo contínuo — em que Bach desenvolve uma escrita extremamente virtuosística para as violas (violas da braccio) e também para o violoncelo, deixando o papel de acompanhamento às violas da gamba, o compositor toma como ponto partida as cordas, violinos, viola, violoncelos e baixo contínuo.

O concerto n.º 1 é o único constituído por 4 andamentos, com um minuete repartido por uma secção principal (refrão), uma polonaise e dois trios destinados aos instrumentos de sopro. Os restantes concertos seguem a estrutura clássica italiana de três andamentos contrastantes: rápido, lento, rápido. Em todos os concertos, as partes destinadas aos solistas são de uma exigência virtuosística extrema. Desde a parte do trompete do concerto n.º 2, destinado certamente a Johann Ludwig Schreiber, que integrava a orquestra de Köthen, não se conhecendo ainda hoje completamente todas técnicas que se utilizavam para poder executar esta parte; passando pelas partes de trompa do concerto n.º 1; pelas de violino no concerto n.º 4 e do cravo no concerto n.º 5, cujas linhas melódicas literalmente voam a velocidades quase impossíveis de seguir auditivamente; pelas de flautas e bisel no concerto n.º 4 e no n.º 2; e pelas partes de viola no concerto n.º 6, já referidas anteriormente. No caso do concerto n.º 3, todos os instrumentos de corda são solistas e ripieno em simultâneo, e em qualquer das partes impera também escrita musical brilhante e de grande dificuldade técnica.

O projecto da Integral dos Concertos e Brandenburgo de Johann Sebastian Bach do Concerto Ibérico – Orquestra Barroca tem vindo a ser construído desde a fundação da orquestra a 1 de Outubro de 2012. Adoptando uma orientação de exploração de repertório orquestral do período Barroco, e tendo vindo a selecionar os melhores músicos especializados nesta área, em particular da Península Ibérica, o Concerto Ibérico apresentou desde então mais de 40 programas diferentes, numa escala temporal que vai desde o Barroco Inicial ao período Clássico. Fundada na região da Beira Interior Castelo Branco-Idanha com o apoio sistemático à sua actividade por parte destes dois municípios, a partir de 2013, a orquestra foi incluindo nos seus programas, em vários concertos, praticamente todos concertos brandeburgueses — exceptuando o concerto n.º 2 que estreia neste programa — e que apresentou em Portugal, Espanha e França. Desde então, numerosos músicos passaram pela orquestra, e vários concertinos foram convidados a orientar artisticamente os vários projectos.

A partir de 2015, Lorenzo Colitto assumiu o papel de concertino principal, e, em estreita colaboração com a direcção, tem vindo a fazer um trabalho com a orquestra que em muito tem contribuído para o seu amadurecimento e para o nível de excelência que hoje pode apresentar. Este trabalho tem-se depois desmultiplicado em numerosas acções de formação, tais como Masterclasses e workshops com os melhores concertinos europeus, das quais avulta os CIMA – Cursos Internacionais de Música Antiga. No ano em que se assinala a passagem do tricentenário sobre a data dos Concertos de Brandenburgo e em que o Concerto Ibérico conta com dez temporadas de actividade intensa, a concretização deste projecto pareceu-nos o modo mais feliz para celebrar estas efemérides.

O Concerto Ibérico e os CIMA são organizações tuteladas pela MAAC – Música Antiga Associação Cultural.

 

Castelo Branco, Junho 2021
João Paulo Janeiro

Orquestra